Às 12h30 do dia 21 de Janeiro de 1976, exatos 39 anos atrás,
um Concorde da Air France decolava do
Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, impulsionado por 4 turbinas Olympus 593,
gerando um empuxo equivalente a força de 5.500 VW Fusca. Este pássaro com 181
toneladas, de bico móvel e asas afiladas tinha como destino final o Rio de
Janeiro, após uma escala técnica em Dacar, na África.
Minutos após a decolagem, o Concorde atingiu impressionantes
18 mil metros de altura e pelo alto falante de bordo o comandante Pierre
Chanoine anunciou aos 100 passageiros, que pagaram 23.792,50 Cruzeiros (cerca
de R$ 37.039,25 em valores atualizados) pela passagem ida e volta, que o avião
havia atingido a “velocidade bisônica”, ou seja, 2.300 Km/h ou “Mach 2”. O mais
rápido jato convencional em atividade na época – o Boeing 747 “Jumbo” atingia
míseros 970 Km/h.
Sete horas depois, o comandante Pierre Chanoine anunciava a
chegada do mesmo avião no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, onde pela
hora local, era apenas 15h30. Aquele mesmo Boeing 747 “Jumbo” fazia o mesmo
trajeto em intermináveis 12 h. Às 20h00 do mesmo dia, o Concorde decolou novamente fazendo
o caminho inverso, Rio – Paris, chegando no Aeroporto Charles de Gaulle às
7h00. Com a viagem completa finalizada, o supersônico cruzou o Atlântico Sul
por 2 vezes em apenas 18h.
Assim foi a viagem inaugural do Concorde na rota Paris – Rio
de Janeiro – Paris. Entre os passageiros, vários nomes do jet set internacional
e empresários conhecidos. O diretor da Lotus, Colin Chapman, veio participar do
Grande Prêmio Brasil de Automobilismo, a ser realizado em 25 de Janeiro de
1976. O cirurgião plástico Ivo Pitangy considerava-se um viajante usual do
Concorde mesmo sem passagem reservada para os primeiros voos, apesar de já ter
voado no supersônico como passageiro em uma das viagens experimentais. Alegando
precisar ir e voltar da Europa em poucas horas para atender a casos de
urgência, Pitangy dizia que um avião tão rápido era essencial nestes casos.
Muito se questionou sobre o comportamento do Concorde após
passar a velocidade do som. Não seria audível, dentro do avião, o estrondo
produzido ao chegar ao “Mach 2”? Não: o ruído no interior é o mesmo de qualquer
jato. E a aceleração e o ângulo de subida? São muito mais impressionantes vistos
de fora. Atingida a altitude de cruzeiro, o dobro dos aviões comuns, a
turbulência desaparece completamente. Sem nenhuma trepidação, uma azeitona
podia permanecer absolutamente imóvel dentro de um copo de Martini, enquanto
seus passageiros observavam a acentuada curvatura da Terra através das pequenas
janelas, menores que as dos jatos comuns. O espaço interno do Concorde era
pequeno: as poltronas tinham espaço de 1,20 metros para cada 2 passageiros, não
havia cinema à bordo e nem bares, comuns na primeira classe dos aviões
convencionais. A velocidade supersônica passa a ser apenas um detalhe dentro do
Concorde registrado pelo “machímetro” à vista dos passageiros, uma espécie de
relógio digital que mede a impressionante velocidade do avião. Doze cardápios
se alternavam a cada viagem entre café da manhã, almoço ou jantar.
O Concorde foi um avião especial. Ele marcou uma era na
aviação mundial e tem um valor histórico enorme, sendo até hoje a primeira e
única aeronave supersônica destinada a transporte de passageiros. Em sua época
áurea, viajar no Concorde era uma experiência única, um símbolo de cruzar os
ares com sofisticação, estilo e velocidade. Este avião passou cerca de 24 anos
dos seus serviços sem acidentes e é considerado um símbolo da aviação comercial,
um mito que perdurou por mais de 30 anos.
Porém em 25 de Julho de 2000, uma das unidades da Air France teve um
acidente fatal, causado por uma peça de um DC-10 da Continental Airlines, que
se soltou na pista minutos antes a atingiu o Concorde durante sua decolagem. As
operações foram definitivamente encerradas em 2003. Foram fabricados 20
Concordes ao longo de 13 anos, sendo que apenas a Air France e a British
Airways operaram a aeronave comercialmente e 17 deles estão em exposição ao
redor do mundo.
Reprodução de capa da Revista Veja, de 21 de Janeiro de 1976 |
Reprodução de matéria do Jornal do Brasil, de 22 de Janeiro de 1976 |
Campanha publicitária da Air France de Dezembro de 1975 anunciando a inauguração da rota Paris-Rio-Paris pelo Concorde |
Concorde no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, nos anos 70 |
Selo comemorativo dos Correios pela ocasião da rota Paris-Rio-Paris operada pelo Concorde |